Pochmann defende nova Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat)

Durante debate no Encontro Estadual da CTB gaúcha, na última quinta-feira (30), o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada), Márcio Pochmann, se revelou partidário de uma nova Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), reunindo todas as centrais e organizações sindicais, independentemente das posições políticas e ideológicas, para debater os rumos do Brasil.

“É uma proposta oportuna”, avaliou. “É necessário aproveitar o momento de crise para construir uma resposta da classe trabalhadora”.

Na opinião do economista, a nação demanda uma nova maioria política e o movimento sindical pode ter uma contribuição decisiva para alcançar este objetivo.

Opinião da CTB

Na tese apresentada ao debate do 2º Congresso, a direção nacional da CTB também aponta a necessidade de construção de uma nova maioria política, cuja base social seria a classe trabalhadora do campo e da cidade, jovens estudantes, intelectualidade progressista, setores do empresariado e outros segmentos cujos interesses estão em choque com o imperialismo e o neoliberalismo.

Na opinião da CTB, a nova Conclat pode ser um passo fundamental para elevar o protagonismo da classe trabalhadora na luta política nacional e construir uma nova maioria política capaz de avançar com maior ousadia na direção de um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na soberania e na valorização do trabalho.

Pochmann também criticou a fragmentação do sindicalismo, que é particularmente nefasto no campo da comunicação. Em termos de material impresso, segundo ele, a mídia sindical produz uma quantidade maior do que a mídia capitalista.

A qualidade e o conteúdo, todavia…

“Abrimos um jornal ou uma revista das entidades sindicais e vemos lá oito ou nove fotos do presidente”.

O encontro dos sindicalistas classistas gaúchos foi um encontro altamente representativo, segundo os sindicalistas, que destacaram a participação das mulheres (30%).

Inscreveram-se 311 delegados, provenientes de 51 municípios e representando 95 entidades de 31 categorias.

História da Conclat

A primeira Conclat (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras) foi realizada na Praia Grande entre 21 e 23 de agosto de 1981. Na ocasião, as centrais sindicais que conhecemos estavam na fase embrionária.

O sindicalismo, que havia sido dizimado pelo golpe militar brasileiro iniciado em 1964, começa a ser retomado ainda sob as barbas dos militares, no fim da década de 1970, fortalecido pela indignação da massa trabalhadora que, além da repressão política e do arrocho salarial, era enganada de forma descarada, como se verificou na manipulação dos índices da inflação de 1973 pelo Governo Federal denunciada pelo Dieese em 1977.

Esta retomada foi marcada por um período de muitas greves, pelo surgimento de lideranças entre os trabalhadores e pela proliferação de ideologias e bandeiras.

O movimento que crescia precisava de direção e logo em janeiro de 1980 a Comissão Nacional da Unidade Sindical, representando sindicalistas de todo o Brasil, reuniu-se no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e decidiu que os trabalhadores deveriam lutar por um salário mínimo real e unificado, garantia no emprego, reforma agrária e combate à carestia.

Para isso, foram programados o 1º de Maio nacional unificado e a realização do 1º Congresso das Classes Trabalhadoras com a denominação de Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras.

Os representantes sindicais diziam que a realização da Conclat era uma aspiração legítima – uma vez que o Governo permitia a realização de evento semelhante pelos empresários, o Congresso das Classes trabalhadoras (Conclap).

Proposta lançada por Hugo Perez no encontro com dirigentes sindicais com Ernesto Geisel, presidente da república na época.

Foi a primeira grande reunião intersindical realizada no Brasil desde 1964, com representações de várias facções do sindicalismo brasileiro (confederações, federações, associações pré-sindicais, associações de funcionários públicos e sindicatos) e cerca de cinco mil trabalhadores, entre eles o Lula, que já era uma das grandes lideranças, o Joaquim dos Santos Andrade, Joaquinzão que foi presidente dos Metalúrgicos de São Paulo, Antonio Rogerio Magri, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e Arnaldo Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santos e o José Francisco que era presidente da Contag.

Na pauta constavam assuntos como: direito ao trabalho, saúde e previdência social, política econômica e salarial, problemas nacionais etc.

Além disso, havia o projeto de criação de centrais sindicais que atendessem as demandas daquele momento da classe trabalhadora no Brasil.

No plano de ação foi aprovado a convocação de um dia nacional de luta em 1º de Outubro e a indicação de uma greve geral.

O Congresso girou em torno da idéia da unificação, mas, o embate de dois projetos dividiu o movimento entre a CUT em 1983 e a CGT em 1986.

Na Conclat, deliberou-se a formação da Comissão Nacional Pró-CUT, os militantes do PCdoB foram contra, por ser uma proposta muito vinculada ao PT e passaram a atuar na Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), até 1991.

Devido a opção clara desta central pelo “sindicalismo de resultados” e o respaldo político dado ao Governo Fernando Collor – inclusive indicando o ministro do Trabalho, Rogério Magri – a CSC rompeu com a central e aderiu à CUT.

Um setor da CGT, aparelhada pelo Governo Collor, sai da entidade e funda outra CGT, enquanto lideranças mais afinadas com a colaboração de classes fundam a Força Sindical.

Durante os Governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique, as centrais permaneceram bastante divididas, com projetos próprios.

Somente após o primeiro mandato do presidente Lula começou-se a buscar uma unidade maior entre as centrais, que foram recentemente reconhecidas pelo Governo como instância legal do movimento sindical.

Desde então é crescente a participação das centrais sindicais no debate nacional.

Atualmente elas participam do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo do Trabalhador (Codefat), Conselho de Segurança Alimentar (Consea), entre outros órgãos. (Fontes: CTB e Dieese)

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