Pediatras voltam a atender conveniados

Acordo entre médicos e operadoras põe fim a boicote que, por mais de um ano, obrigou clientes a pagarem por consultas em emergências e consultórios

Os clientes de planos de saúde que têm filhos pequenos já podem respirar aliviados. Depois de mais de um ano de discussões entre as empresas de convênios e os pediatras de Brasília, as duas partes finalmente fecharam um acordo. Com isso, a maioria dos planos volta a ser aceita nas emergências dos hospitais particulares a partir deste mês. No ano passado, com o boicote organizado pelos médicos contra as operadoras, os pacientes tinham que gastar até R$ 120 por uma consulta no pronto-socorro, mesmo pagando em dia a mensalidade do plano. A partir de agora, o atendimento volta a ser coberto pelas empresas de convênio.

Apesar do acordo, nem todas as reivindicações dos médicos foram aceitas. Os pediatras pediam o repasse de R$ 90 por consulta, mas conseguiram fixar um piso de R$ 60 para cada atendimento realizado nas emergências ou nos consultórios. A categoria decidiu pôr fim ao boicote com a condição de voltar a negociar, nos próximos dois anos, novos aumentos nos honorários. A partir de agora, eles passaram a receber de R$ 60 a R$ 90 por consulta. Antes do boicote, o piso era de R$ 44.

O presidente da Sociedade Brasiliense de Pediatria, Dennis Alexander Burns, explica que o valor do piso ainda não é o ideal. “Não chegamos ao valor que desejávamos, mas avançamos bastante nas negociações nos últimos dois meses. Todos os planos que chegaram aos R$ 60 por consulta estão voltando a ser aceitos a partir deste mês. Algumas negociações foram feitas diretamente pela Sociedade de Pediatria. Mas, em alguns casos, os médicos, por meio de suas clínicas, negociaram separadamente com os planos de saúde”, explica o presidente da entidade.

A pressão contra os planos de saúde rendeu ainda outras vitórias à categoria. O pagamento do valor da consulta de retorno passará a ser pago aos médicos, que também serão remunerados em caso de visita a pacientes internados. A partir da segunda visita diária, os pediatras terão direito a 30% do valor pago por atendimento.

Consenso positivo

A gerente do Sindicato dos Donos de Hospitais Particulares, Daniele Feitosa, comemora o acordo entre os pediatras e as operadoras de planos de saúde. “Entendemos o pleito dos médicos, a remuneração deles realmente era baixa. Esse consenso entre as partes é bom para os pediatras, para as empresas, para os hospitais, mas, principalmente, para a sociedade”, afirma Daniele.

Apesar de os hospitais não interferirem na negociação entre planos de saúde e médicos, as unidades privadas também foram prejudicadas pelo boicote. Como os pediatras não aceitavam atender por convênio, os pacientes tinham que pagar pela consulta no pronto-socorro e acabavam atribuindo o problema à direção do próprio hospital.

Segundo o diretor da Sociedade Brasiliense de Pediatria José Marco Andrade, agora, o objetivo dos médicos é alcançar os R$ 90 exigidos inicialmente dentro de dois anos. “Claro que esse valor terá que ser reajustado com a inflação. Apesar de termos chegado a um acordo, muitos profissionais, principalmente nos consultórios, decidiram suspender definitivamente os contratos com os planos. E estão trabalhando de maneira muito melhor”, afirma o pediatra.

1 – Planos privados

Pelo menos 700 mil pessoas são clientes de planos de saúde no Distrito Federal. Desses, 120 mil são crianças. No DF, o mercado está dividido entre as empresas de medicina de grupo e as entidades de auto-gestão, ligadas principalmente a órgãos públicos e tribunais.

Apesar de termos chegado a um acordo, muitos profissionais, principalmente nos consultórios, decidiram suspender definitivamente os contratos com os planos. E estão trabalhando de maneira muito melhor”

José Marco Andrade, diretor da Sociedade Brasiliense de Pediatria

Pais aliviados

A notícia de acordo entre médicos e planos é motivo de comemoração para os pais. Ter de pagar pelas consultas, além dos gastos mensais com o convênio, é uma alta para a maioria das famílias brasilienses. A taquígrafa Dilza Paula da Mota, 48 anos, reclama da cobrança pelas consultas e conta que se sentia insegura quando o plano de saúde era recusado na emergência pediátrica. “É um absurdo a gente ter que pagar pelo plano de saúde e depois ainda gastar com o atendimento justamente quando a gente precisa. Espero que isso não volte a acontecer”, diz Dilza, mãe de Guilherme, 9 anos.

Para o assessor Rodrigo Ribeiro Miranda, 24 anos, o acordo entre pediatras e convênios é bem-visto. “Desde o ano passado, meu plano não era aceito em quase nenhum hospital para a consulta na pediatria”, lembra Rodrigo, pai do pequeno Felipe, que, em breve, completará um ano. O convênio de Rodrigo voltou a ser aceito nos pronto-socorros dos principais hospitais particulares da cidade.

A pediatria é considerada uma especialidade de baixo retorno financeiro. Normalmente, uma consulta não gera outros procedimentos, como exames, que podem render mais ganhos extras aos hospitais e aos médicos. Na cardiologia, por exemplo, todos os atendimentos requerem a realização de eletrocardiogramas ou testes de esforço, que ajudam a engordar o orçamento dos especialistas e dos empresários do ramo.

Atendimento quase normalizado

Confira quais planos voltaram a ser aceitos pelos hospitais particulares. A lista tende a aumentar nos próximos dias, já que outros convênios estão fechando negociação com as unidades privadas.

· Asa Sul

Santa Luzia

Casembrapa, SIS, STM, Medial, MPF, Notre Dame, Bacen, Assefaz, Alianz, Conab, ECT, Embratel, Slam, TJDFT, Unimed, STF, TRF, TRT, World Assist, Medservice, Amil, MPM, MPT, MPDFT, Petrobras, Cassi, CEF, Golden Cross, Omint, Eletronorte, Bradesco, Capsaúde, Sulamérica.

Santa Lúcia

SIS, Life Empresarial, CRF, Unafisco Saúde, STM, Bradesco

· Taguatinga

Hospital Anchieta

Amil, Saúde Caixa, Capsaúde, Golden Cross, Bradesco, Infraero, Unafisco, BRB, SIS, Unimed Belo Horizonte, TRF, TRE, STJ, Plan Assist, STF, Gama Saúde, Unibanco, Pascal, ECT, Medservice, Sulamérica

Hospital Santa Marta

Asceb, Amil, Bradesco, BRB Saúde, Casembrapa, Cassi, Geap. Golden Cross, Medservice, Plan Assist, SIS, Slam, Sulamérica, STJ, TRE

· Ceilândia

Hospital São Francisco

Asceb, Amil, Golden Cross, SIS, Slam, Intermédica, Bradesco, Assoma, Pro Saúde Card, Unibanco Saúde, Gama Saúde, CapSaúde, Plan Assist, MPF, MPT, MPDFT, MPM, STJ, Sulamerica, MedService.

· Asa Norte

Hospital Santa Helena

Não informou

Prontonorte

Não tem emergência pediátrica

· Lago Sul

Hospital Brasília

Não tem emergência pediátrica

Fonte: Correio Braziliense

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