Diário da greve: servidores retomam espaço histórico de luta no TST

Na tarde de ontem (9), o pátio do Tribunal Superior do Trabalho (TST) foi tomado por servidores que deixaram um recado bem claro ao presidente João Orestes Dalazen: queremos o seu apoio à aprovação do relatório do Policarpo! Munidos de bandeirinhas, apitos, buzinas e cornetas, os grevistas pediam que os colegas do tribunal descessem do prédio e reforçassem o movimento, que completou ontem ao seu 23º dia de paralisação. Centenas de servidores se uniram para gritar: “De camarote não, a nossa luta é aqui no chão” e “Cinco anos não! Reajuste na minha mão!”.

Do alto do carro de som, os diretores do sindicato lembraram a todos a importância da Justiça do Trabalho, que é o maior ramo em número de servidores em todo o país e também o tribunal do ministro Ives Gandra. Foi ele que, em nome do CNJ, recebeu a missão do ministro Gilmar Mendes de cortar os valores do nosso projeto, cortou o ponto dos servidores e tem promovido um grande terrorismo com as barganhas de funções. O apoio da presidência do TST a nossa causa é a oportunidade do tribunal se redimir junto à categoria.

Ao sentir o calor do movimento quem não tinha aderido parou de trabalhar, acenou com as mãos e exibiu a bandeira do movimento grevista. Foi o caso do servidor do TST, Luiz Paulo Oliveira Machado, que desceu do prédio assim que viu os manifestantes na rua. “Eu já fui delegado sindical no Banco do Brasil e sei da importância da união de uma categoria para ter atendidas as suas reivindicações. O que falta para termos aumento nos nossos salários é a união de todos”, afirmou.

Luiz Paulo se disse indignado com os colegas que não participam dos atos com medo de perderem funções. “Falta consciência de que a luta é de todos. Eu estou aqui lutando pelos direitos daqueles que estão sentados. Muitos que estão em greve estão ameaçados de perder suas funções e quem vai ocupá-las é exatamente quem não fez greve”, desabafou.

Indignação maior foi a do técnico judiciário do TSE Gean Veiga diante dos seguranças que tentaram impedir os manifestantes de entrarem no prédio para fazer um apitaço. “Essas pessoas precisam acordar e saber que estamos lutando por todos. E quem mais deveria apoiar os servidores eram os ministros porque somos nós quem fazemos a engrenagem da Justiça funcionar”, afirmou.

O ato terminou com os grevistas sentados no gramado do tribunal formando a palavra TST. Foi a forma que encontraram para dizer, para aqueles que não haviam aderido ao movimento, que eles estavam lutando pela causa de todos.

Reflexões sobre a greve

Ao longo da história, os trabalhadores criaram diversas formas de lutar por seus direitos ou reivindicações. No entanto, a greve é considerada, até hoje, a mais rica delas, pois evidencia como nenhuma outra a luta de classes. É um momento singular, uma declaração de que todos os meios de negociação foram esgotados. Durante uma greve é quando o governo (patrão), a sociedade e outros trabalhadores tomam conhecimento das nossas bandeiras.

Para fazer greve, o trabalhador tem de vencer a si mesmo, num gesto de coragem, sobrepondo-se à alienação, à passividade, à submissão. A greve, que é por natureza uma ação coletiva, tem o poder de desenvolver um sentimento de apoio mútuo, estreitando os laços de solidariedade entre os trabalhadores.

A greve ensina que para os trabalhadores melhorarem sua condição de vida e transformar a sociedade é preciso a união dos esforços de todos. Não é por acaso que a greve é a afirmação de luta mais poderosa na história.

Embora precisemos vencer uma série de obstáculos, muitos deles pessoais mesmo, hoje é muito mais fácil fazer greve do que no passado. Fazer greve, antigamente, era visto como ato de anarquista. Hoje em dia, a greve é o recurso final para conseguir algo que é de direito. Tanto que a própria Constituição nos assegura esse instrumento de luta.

E o que dizer dos trabalhadores que mais do que perder uma função ou ter seu ponto cortado ao fazerem greve nos anos de chumbo arriscaram perder a própria vida? Mesmo sob ameaças e riscos, esses trabalhadores não se amedrontaram – paralisaram suas atividades e exigiram o cumprimento de suas reivindicações.

Você sabia que as grandes greves que marcaram a história do nosso país foram feitas numa época sem as facilidades que temos hoje. Uma época onde os companheiros eram chamados no grito e não por meio de um carro de som, e que ao contrário de emails, as notícias sobre o movimento eram compartilhadas em boletins. Todos eram responsáveis pelo sucesso de cada evento. Os piquetes eram disputados num tempo em que greve era um ato heróico, fervoroso, embasado num sentimento de doação.

É esse sentimento que precisamos recuperar. Um sentimento de partilha, de divisão de responsabilidades e ações, de solidariedade, de esforço mútuo, de companheirismo. Fazer greve não é uma tarefa fácil, mas fundamental para quem quer transformar uma realidade. Greve é para aqueles que acreditam, que têm esperança, que assumem seu valor.

Está esperando o quê? Desça e vá ao encontro daqueles que estão lá fora, nos piquetes e atos, lutando para que você tenha um salário à altura das atividades que desenvolve; para que você seja respeitado, valorizado, atendido em suas reivindicações; para que você tenha melhores condições de trabalho; para que você receba um tratamento igual a outras carreiras; para que você tenha seus papéis institucionais e sociais reconhecidos.

A nossa bandeira é uma só, honre essa luta que não é só de x ou y, mas de toda a nossa categoria. Faça greve! Faça história!

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