Editorial da Revista Sindjus: Até tu, Brutus?

Depois do governo, associações de magistrados resolveram declarar guerra ao reajuste dos servidores do Judiciário ignorando o fato de fazermos parte de uma mesma instituição e de estarmos, ao contrário deles, há cinco anos sem receber qualquer reajuste salarial. Notas recentes da Ajufe e da Anamatra expuseram o que há de mais atrasado em matéria de pensamento coletivo, de gestão democrática, de aprimoramento da Justiça. A própria AMB faz questão de afirmar que o reajuste dos magistrados e dos servidores são duas coisas completamente diferentes, sem ligação entre si.

As entidades insistem em separar a nossa reivindicação da deles como se o poder de compra de ambos não fosse prejudicado com o crescimento da inflação, por exemplo. Os servidores, assim como os magistrados, precisam de comida, de saúde, de educação… Por que só os togados merecem reajuste se todos os servidores contribuem para a construção da Justiça? Os servidores, que representam 8 vezes o número de magistrados, trabalham de forma árdua, séria e eficiente, de modo que seu esforço é parte do que o jurisdicionado recebe quando busca por Justiça.

Embora muitos magistrados ainda não reconheçam a importância dos servidores no dia-a-dia dos tribunais, todos sofrem os impactos da grande evasão de servidores para carreiras mais atrativas. Os servidores têm um papel fundamental no que diz respeito ao Judiciário e merecem ser valorizados. Por isso, não vamos nos contentar com migalhas, tampouco abaixar a cabeça em nome da hierarquização de um poder.

Temos nossos direitos e anseios e vamos lutar por eles, independentemente da opinião daqueles que se colocam acima do bem ou do mal. Não corroboramos as generalizações como fez a Anamatra, que citou as exceções para atacar o justo reajuste que melhorará os salários dos servidores que, apesar de muitas vezes terem sido colegas de faculdade (pois cursaram o mesmo curso de Direito que os magistrados), entram hoje ganhando no máximo seis mil enquanto que seu colega juiz ganha mais de 20 mil reais.

No entanto, os magistrados classificam sua valorização como legítima e a nossa como uma espécie de capricho que não tem devida prioridade. Prova disso é que eles condenam o nosso movimento grevista, mas tomam medidas enérgicas para defender seus interesses. Além de fazerem paralisações, os juízes recentemente decidiram suspender a publicação de citações e intimações de processos da AGU como forma de pressionar o reajuste que pleiteiam no Congresso.

Em momento algum os magistrados irão observar o Sindjus produzindo notas contra atitudes como essa, pois respeita as reivindicações dos juízes. No entanto, espera ser tratado com o mesmo respeito. O PL 6613/09, projeto que trata da nossa revisão salarial, foi elaborado em conjunto com os tribunais superiores. Só foi encaminhado ao Congresso depois de aprovado por todos os tribunais superiores. As associações de magistrados já interferiram em outro momento e nos impuseram um corte de 80% para 56%. Portanto, não há razão para ataques ou chiliques por parte dos magistrados.

Não vamos ficar calados tendo nosso tapete puxado por aqueles que deveriam ser os primeiros a nos defender.

Berilo Leão

Coordenador-geral do Sindjus

OBS: Este texto é o editorial da Revista Sindjus de outubro, que em breve estará disponível em nosso site e também na versão impressa.

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