1º de Maio: por que os servidores públicos viraram o bode expiatório da crise que assola o país?
Chegamos a mais um Dia do Trabalhador. A data, que marca o emblemático 1º de maio de 1886, quando os trabalhadores norte-americanos foram às ruas pedir a redução da carga horária de trabalho, também traz consigo um marco pra reflexões sobre os desafios ainda enfrentados por todos os trabalhadores brasileiros e porque não falar sobre os percalços vivenciados pelos servidores públicos.
Nos últimos anos, os servidores viraram os verdadeiros bodes expiatórios da crise econômica brasileira. Diversas medidas e propostas se voltam para a retirada de direitos e consequente precarização do Serviço Público. Por isso nos perguntamos: o que os servidores públicos têm a comemorar neste 1º de maio?
Mesmo com a inflação galopante que assola o país, os servidores do Poder Judiciário Federal e do MPU, por exemplo, estão sem recomposição salarial há mais de cinco anos. Essa recomposição vem sendo reivindicada ano após ano e não se vislumbra qualquer perspectiva de reajuste que venha a recompor integralmente a defasagem salarial do segmento, que supera 50% de perdas.
E não é só. Os servidores públicos, que se dedicaram por muitos anos aos estudos e a constantes aperfeiçoamentos para melhor servir à sociedade brasileira, agora veem direitos já adquiridos, como a estabilidade, sendo ameaçados, sob a desculpa de que a máquina pública estaria inchada.
Relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre os países-membros desmistifica essa afirmação ao demonstrar que o serviço público brasileiro não está inchado. O Brasil tem apenas 12% de trabalhadores vinculados ao Serviço Público, enquanto países de primeiro mundo como Dinamarca e Noruega já ultrapassam os 35% de trabalhadores ativos de alguma forma vinculados à vida pública. A média dos países da OCDE é de 21%.
E são esses trabalhadores, constantemente atacados e vilipendiados, que são responsáveis por ensinar os filhos nas escolas públicas, atender nos postos de saúde das periferias, garantir a segurança para as famílias, levar justiça aos cidadãos, mesmo sem os recursos necessários; enfrentando a falta de condições de trabalho, de estrutura e de mobiliários adequados, em situações insalubres e, muitas vezes, encarando a revolta do cidadão, que não entende que o servidor público não é responsável pela falta de material de trabalho, mas o agente que é capaz de superar todas as dificuldades para levar serviços a quem mais precisa.
E meio a tantas falácias vendidas pelo governo contra os servidores, se esquecem de olhar para alguns dos verdadeiros responsáveis pela crise econômica – os sonegadores -, que adotam um vexatório modelo de concentração de renda e abocanham mais de R$ 417 bilhões por ano – valor esse que daria para construir centenas de hospitais, escolas e creches públicas para atender quem realmente precisa.
Como consequência desse movimento crescente de perseguição explícita aos servidores e da política deliberada de sucateamento dos serviços públicos, há uma drástica piora nos serviços prestados aos cidadãos, servidores sobrecarregados e desestimulados, falta de instrumentos e recursos para trabalhar e, mais uma vez, quem perde com isso são os cidadãos e os trabalhadores brasileiros.
Neste 1º de maio não temos muito a comemorar, porém, mais do que nunca, devemos nos unir para reivindicar, cobrar e buscar o que queremos e esperamos para a classe trabalhadora e para a população brasileira. Queremos um serviço público forte e de qualidade. Queremos trabalhadores reconhecidos e valorizados, com salários dignos e respeitados – sejam eles da iniciativa pública ou privada. Viva os trabalhadores!
Coordenador-geral do Sindjus-DF
Costa Neto