O Estado de S. Paulo: Rio ainda tem mais servidores federais que Brasília
BRASÍLIA – Passados quase 52 anos da transferência da capital federal para Brasília, o Rio de Janeiro abriga até hoje o maior número de servidores públicos federais. Mesmo sem incluir na contabilidade poderosas estatais, como a Petrobrás e o BNDES, o Rio detém cerca de 20% de todo o funcionalismo público federal da ativa ante pouco mais de 11% dos servidores lotados em Brasília.
Não é à toa que parte dos parlamentares fluminenses que dá expediente no Congresso Nacional seja cooptada por esse eleitorado tão vasto e acabe votando contra projetos de interesse do Palácio do Planalto, quando o assunto mexe com direitos históricos de servidores públicos.
Foi assim na votação do projeto de lei que criou o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp), que vai terminar com a aposentadoria integral dos servidores que ingressarem na administração federal a partir da sanção da nova lei. Mais da metade da bancada de deputados do Rio votou contra a proposta, independentemente do partido.
“Foi um sofrimento doméstico”, confessa o líder do PSC, deputado Hugo Leal (RJ). Aliado do Planalto, ele foi pressionado em casa pela mulher, Luize, a votar contra a criação. Professora da faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, Luize tentou convencer o marido de que o fundo vai “deteriorar” o serviço público.
“No Rio tem muito servidor público que é um eleitor muito qualificado e atento”, diz Leal. “Tem sempre um parente, um amigo, um amigo do amigo, que é servidor público”, defende-se o deputado, que não cedeu aos apelos da mulher, seguiu a orientação do governo e votou a favor do Funpresp.
Opinião bem diferente tem o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Para ele, o número de servidores federais no Rio é grande, mas, se comparado com a população do Estado, não tem peso eleitoral significativo. “Cento e dois mil servidores num universo de 20 milhões de habitantes é nada”, argumenta o peemedebista.
Estrutura. Com um eleitorado forte entre o funcionalismo público, o líder do PSOL, deputado Chico Alencar (RJ), procura votar sempre em consonância com os anseios do funcionalismo federal. Ele diz que, além de servidores federais da administração direta, o Rio é sede de importantes estatais e autarquias, além de abrigar um grande contingente militar, das Forças Armadas.
Alencar aposta que o quantitativo de servidores sediados no Rio vai cair com o passar dos anos. “Essa mudança da capital para Brasília, em 1960, foi vertical, não contou com um envolvimento real da sociedade no projeto”, afirma. “Além disso, 50 anos para uma cidade, como é o caso de Brasília, é muito pouco se comparados aos 447 anos de idade do Rio de Janeiro”, conclui o deputado.
A manutenção no Rio, de estruturas federais grandes nas áreas de saúde e de educação é um dos motivos para até hoje o Rio abrigar tantos servidores da ativa. O Estado conta com seis hospitais federais e quatro universidades, também federais. “São Paulo historicamente teve pouca estrutura federal. Esse pessoal todo no Rio é fruto ainda da época em que a cidade era a capital do País”, diz o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-ministro da Previdência e relator do fundo complementar dos servidores na Câmara.
De fato, mais da metade dos 102.570 servidores públicos federais da ativa lotados no Rio trabalha nos setores de saúde e de educação. Dados do Ministério do Planejamento apontam 33.835 servidores na área de saúde e 32.344 em educação.
No ano passado, o governo federal gastou R$ 20,3 bilhões com o pagamento de 265.554 servidores da ativa e inativa – 102.570 na ativa, 92.366 aposentados e 70.618 pensionistas. Já os 167.279 servidores ativos e inativos lotados em Brasília, sede do governo federal, gastaram a metade com o pagamento da folha de pessoal ao longo de 2011: R$ 10,1 bilhões.
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