Sindjus 23 anos: Pochmann diz que não devemos ter medo de ousar

A cerimônia de abertura das atividades especiais em comemoração aos 23 anos do Sindjus levou os servidores a refletir sobre um novo modelo de Estado, com servidores valorizados e integrados à sociedade do conhecimento. O professor Márcio Pochmann provocou os servidores, que compareceram em bom número ao auditório da LBV na noite de ontem (23), a ousar em suas lutas e bandeiras. Uma provocação em sintonia com a campanha pela equiparação salarial das carreiras do Poder Judiciário e do MPU com o Legislativo lançada oficialmente com a palestra “Tarefas maiores exigem remunerações maiores”.

Ao lado do coordenador Cledo Vieira, Pochmann fez uma viagem pelos modelos de Estado adotados no Brasil, frisando que não podemos defender um Estado de 30, 50 anos atrás, pois até mesmo a experiência democrática é recente no Brasil. Segundo ele, é necessário pensar o modelo de Estado que queremos, pois há uma crescente alienação da nossa parte com o momento que estamos vivendo; um momento onde a tendência é de fragmentação do conhecimento, com o fortalecimento da cultura da especialização.

“A sociedade do conhecimento é bombardeada por um conjunto de informações de modo que perdemos a capacidade de analisar, de articular, de compreender”, afirmou o economista que mergulhou em dados estatísticos da história recente para comprovar que o Brasil passa por um período de mudanças. O declínio rápido da taxa de fecundidade, a mudança da composição etária, novos arranjos familiares, a mudança da agenda da vida, a perca da sociabilidade são fenômenos correntes que influenciam diretamente na construção desse novo Estado brasileiro que é baseado no trabalho imaterial.

“O que vocês fazem é trabalho imaterial”, afirmou Pochmann aos presentes, pontuando que os direitos trabalhistas que conhecemos dizem respeito ao trabalho material. Citou como exemplo a jornada de trabalho, que começa quando o trabalhador chega ao trabalho e não quando ele sai de casa. Hoje, com as novas tecnologias, como celular e tablete, os trabalhadores ficam plugados mais tempo ao trabalho, pois não há necessidade de local determinado para ser desenvolvido, configurando assim um novo tipo de exploração. “A cada dez postos de trabalho abertos hoje, entre 7 e 8 são classificados como imateriais”, frisou.

Pochmann disse que quanto maior o trabalho, maior a riqueza gerada. No entanto, essa riqueza não está sendo distribuída. Explicou que não há razões técnicas que levem hoje uma pessoa a entrar no mercado de trabalho antes de completar o ensino superior e a jornada de trabalho ser maio que 12 horas semanais. “Não podemos ter medo de ousar defendendo essas bandeiras. A celebração do 1º de Maio nasceu da luta por uma jornada menor. No século passado, a defesa de uma jornada de 40 horas era absurda. Hoje é realidade. Portanto, os sindicatos e os trabalhadores precisam ter coragem de abraçar essas causas”, justificou.

Como vivemos a sociedade do conhecimento, Pochmann deixou claro que o estudo não deve ser privilégio de crianças e adolescentes. Adultos e idosos devem estudar ao longo de toda vida, cuja expectativa em breve vai alcançar a faixa dos 100, 110 anos. Para ele, é necessário repensar o processo de formação, de modo que a educação se torne mais atrativa e continua.

Ao final da palestra, Jailton Assis, Najla Bastos e Job Filho levantaram perguntas relacionadas aos caminhos de valorização do servidor, enfatizando a relação entre governo (Executivo) e a categoria. Pochmann disse que é preciso que os sindicatos comecem a pensar para além de emprego e renda, pois “somos trabalhadores no local de trabalho, para além dele somos cidadãos. E como cidadãos, necessitamos de uma agenda mais ampla”.

Outro ponto destacado pelo economista foi em relação às negociações coletivas, com base na correlação de forças. Sublinhou que a sociedade precisa entender a importância do serviço público, de modo que se os servidores tiverem o apoio da sociedade terão mais peso na negociação e facilidade de conquistar o que reivindicam. “Qual o resultado do nosso trabalho? Precisamos demonstrar à sociedade o que fazemos”.

Mais do que demonstrar o potencial do trabalho ao governo, que é temporário, é necessário dialogar diretamente com a sociedade sobre papeis, responsabilidades e realizações. Essa foi a receita dada por Pochmann durante uma palestra que animou os servidores a colocar a mão na massa e construir esse Estado que valorize o público que é a essência do servidor.

Quem é Márcio Pochmann?

Márcio Pochmann Possui graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1984) e doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (1993). Atualmente é Professor Livre Docente da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Políticas Sociais e do Trabalho. No plano internacional, foi consultor em diferentes organismos multilaterais das Nações Unidas, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Defensor de um Estado forte, com servidores valorizados, Pochmann é autor de pensamentos como: “O neoliberalismo nos forçou a pensar pequeno”.

Crédito foto: Marcos André

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